“Vede”, disse vosso Deus, “Eu sou um Círculo em cujas mãos estão 12 Reinos. Seis são assentos de alento vivo; os demais são como foices afiadas ou os chifres da morte; onde as criaturas da Terra são e não são, exceto pela minha própria mão; que dorme e irá se levantar.

No princípio, Eu vos fiz administradores e vos coloquei em 12 assentos de governo, dando a cada um de vós poder sucessivamente sobre 456, as verdadeiras eras do tempo, de forma que dos mais altos receptáculos e cantos de seus governos pudessem trabalhar meu poder; derramando o fogo da vida e crescimento continuamente por sobre a Terra. Assim, vós vos tornastes o limiar da justiça e da verdade”.

Em Nome do vosso mesmo Deus, levantai, eu digo a vós. Contemplai, Suas misericórdias florescem e Seu Nome se torna poderoso entre nós. No qual dizemos vai, descei e aplicai-vos sobre nós como participantes da sabedoria secreta da Vossa Criação.

Comentários de Aaron Leitch, no livro “Angelical Language vol. I”

A Chamada 3 volta a citar Iadbaltoh. Ele mais uma vez descreve o Universo como visto pelos olhos de um astrólogo, e esta Chamada inteira é reminiscente de uma carta zodiacal. O Círculo se refere aos Céus, cuja fronteira é marcada pela faixa de estrelas fixas. Este Círculo é então dividido entre doze Casas astrológicas (chamadas “Reinos” na poesia da Chamada) através das quais as estrelas passam em seu curso diário. Com certa frequência, as casas e seus doze signos são divididas entre posições negativas e positivas, ou afortunadas (os assentos de alento vivo) e as desfortunadas (foices afiadas ou os chifres da morte). É através destes “reinos” que Deus dirige o destino do mundo – ou onde as criaturas da Terra são e não são.

Cabe lembrar que a Chamada 3 foi descrita por Gabriel como “a primeira da natureza, e o início do vosso ser em corpo; através do qual todas as coisas do mundo tem vida, e vivem”. Isto faz perfeito sentido, já que a Chamada 3 parece incluir uma descrição do mundo físico. O Círculo dos Céus marca a fronteira entre o mais alto reino Divino e o Universo físico criado. Se o foco desta Chamada está no estabelecimento das forças zodiacais, então ela trata necessariamente também sobre o estabelecimento do mundo físico.

As palavras finais desta passagem – que dorme e irá se levantar – é uma espécie de enigma. Elas poderiam simplesmente significar que Deus decide quem vive ou morre – mas aquela palavra “irá” joga dúvida sobre a questão. Se as criaturas da Terra dormem (morrem) e irão se levantar, poderia ser uma sugestão ao conceito Judaico-Cristão da Ressurreição. Isso certamente se alinha com a natureza apocalíptica das Chamadas e com o próprio Liber Logaeth. Isso implica que o estabelecimento dos Doze Reinos irá durar até o Fim dos Tempos.

No princípio, Eu vos fiz administradores e vos coloquei em 12 assentos de governo, dando a cada um de vós poder sucessivamente sobre 456, as verdadeiras eras do tempo, de forma que dos mais altos receptáculos e cantos de seus governos pudessem trabalhar meu poder; derramando o fogo da vida e crescimento continuamente por sobre a Terra. Assim, vós vos tornastes o limiar da justiça e da verdade”.

Neste ponto, a poesia ganha um tom ao estilo do Gênesis, com Deus colocando Seus Anjos nos seus assentos de governo no início dos tempos. O assunto neste caso é aquele dos doze “Reinos” do zodíaco, e os Anjos que os governam. É o trabalho deles, sob a direção dos Sete Arcanjos, dirigir as atividades do mundo, e animá-lo “derramando o fogo da vida e crescimento continuamente”.

Na segunda linha desta passagem, aprendemos que os Governantes celestiais (governadores) recebem poder sucessivamente sobre “as verdadeiras eras do tempo” (ou Universo). De fato, Dee começou suas evocações Angélicas ao contatar Anael, o Arcanjo de Vênus que o então atual regente sucessivo do cosmos. O sistema de Dee seguia aquele do Septum Secundus de Trithemius e o Magia de Arbatel, onde os Sete Arcanjos governam em uma sucessão Aeônica.

É difícil dizer com muita certeza o que é indicado pelos números “456”. A maioria destes números é adicionada pelo Anjo Ilemese algum tempo após o Angélico haver sido transmitido, como se eles fossem uma reflexão tardia ou uma consideração especial. Indo estritamente pelo contexto, acredito que a frase “456, as verdadeiras eras do tempo” é uma referência aos Reinos (ou Anjos) zodiacais governados pelos Sete Arcanjos. (O número “456” vai aparecer novamente na Chamada Seguinte).

Finalmente, perceba a menção ao “limiar da justiça e verdade” no fim desta passagem. Na Chamada 1 nós vimos o Cristo descrito como o “balanço entre a retidão [ou justiça] e verdade”, e associado ao Sol no coração do sistema solar. Aqui, na Chamada 3, nós encontramos os Governantes dos doze reinos zodiacais descritos como as fronteiras (limiar) deste balanço central. Uma representação bastante coesa do Universo foi desenvolvida, particularmente do ponto de vista astrológico.

Em Nome do vosso mesmo Deus, levantai, eu digo a vós. Contemplai, Suas misericórdias florescem e Seu Nome se torna poderoso entre nós. No qual dizemos vai, descei e aplicai-vos sobre nós como participantes da sabedoria secreta da Vossa Criação.

Completa a citação de Iadbaltoh, o locutor mais uma vez fala por si, e fecha a Chamada com uma conjuração geral.

As Chamadas 4 a 7 parecem se dirigir a um grupo de Anjos estelares coletivamente denominados “Trovões”. Estes Anjos particulares aparecem no Livro do Apocalipse.

Notas de Tradução

Ao definir o “limiar da justiça e da verdade”, é como se a Força Criadora estabelecesse um espaço onde as coisas acontecem ou, pelo menos, tem sua manifestação inicial – o palco da Criação. Quando conectamos esta Chave ao Elemento AR e suas virtudes de Conhecimento/Inteligência, é possível imaginar que uma peça eventualmente irá tomar lugar neste palco, que é a mente da própria Força Criadora. Esta peça, por sua vez, precisa seguir as regras estabelecidas pela Criação (não deixar o palco, ou o ambiente limite).

A peça, no entanto, ainda não aconteceu. Ela precisa ser concebida para que, na próxima etapa, possa enfim acontecer – tal como os pensamentos que antecedem uma ação.