“O Leste é uma casa de virgens cantando louvores entre as chamas da Primeira Glória; em que o Senhor abriu Sua Boca, e elas se tornaram 28 moradas vivas onde a força do homem se regozija, e elas estão vestidas de ornamentos brilhantes que operam maravilhas em todas as criaturas. Cujos reinos e continuidade são como o Terceiro e Quarto; torres fortes e locais de conforto, os assentos da misericórdia e continuidade.

Ó vós servos da misericórdia, movei-vos, aparecei, cantai louvores ao Criador, e sejais fortes entre nós. Pois para esta recordação é dado poder e nossa força cresce forte em nosso Consolador”.

Comentários de Aaron Leitch, no livro “Angelical Language vol. I”

Assim como a Chamada 6, este poema não é falado por Iadbaltoh, e Ele somente é mencionado aqui como “o Senhor”. O estilo permanece o do Gênesis ao invés dos Salmos.

Neste caso, o Leste é diretamente endereçado como tal. Ele não é chamado de “Ângulo”, mas nós ainda vemos uma referência aos Ângulos adiante no poema. Indo pelo padrão que seguimos até aqui, o Leste deveria ser o Primeiro Ângulo da carta zodiacal.

Não é possível dizer se existe algum significado mais profundo para a frase “casa de virgens”. Poderia ser simplesmente uma descrição poética dos Anjos que residem no Leste. Estes são os Anjos que cantam louvores enquanto o Sol se levanta na aurora (as chamas da Primeira Glória), ou aqueles que cantam na presença direta do Trono Divino. Sua relação com o Sol recém-nascido (ou, na imagem cristã, o Filho recém-nascido) poderiam explicar sua descrição como “virgens”.

Assim como os Anjos na Chamada 6, as virgens não recebem um nome. Contudo, pelo fato de eles serem igualados com os Anjos dos outros três quadrantes dos Céus, é provável que também sejam “Trovões”.

…em que o Senhor abriu Sua Boca, e elas se tornaram 28 moradas vivas onde a força do homem se regozija, e elas estão vestidas de ornamentos brilhantes que operam maravilhas em todas as criaturas.

Aqui nós vemos o estabelecimento destes Anjos por Iadbaltoh. Embora o foco desta Chamada esteja obviamente sobre o Leste, eu suspeito que as “28 moradas vivas” representem as mansões astrológicas da Lua. Isso vai de encontro ao foco zodiacal das três Chamadas prévias, e remete à imagem da Lua que foi mencionada apenas uma vez na Chamada 1.

Nos “ornamentos brilhantes” é possível ver outra imagem poética das estrelas no céu noturno.

Cujos reinos e continuidade são como o Terceiro e Quarto; torres fortes e locais de conforto, os assentos da misericórdia e continuidade.

Aqui nós vemos que os Anjos do Leste são “como o Terceiro e Quarto” – ou como os Anjos dos Terceiro e Quarto Ângulos. Isso dá suporte à ideia de que eles são Anjos zodiacais juntamente com aqueles das Chamadas 4, 5 e 6. Ao se mover do Norte para o Leste do horóscopo, as Chamadas completaram agora o Círculo iniciado na Chamada 4 – envolvendo todos os regentes Angélicos do zodíaco.

Ó vós servos da misericórdia, movei-vos, aparecei, cantai louvores ao Criador, e sejais fortes entre nós. Pois para esta recordação é dado poder e nossa força cresce forte em nosso Consolador.

A Chamada finalmente chega à sua conjuração de conclusão. No entanto, desta vez uma linha extra é adicionada ao final, o que parece bastante formal e quase similar a uma oração. É possível suspeitar que esta seja uma espécie de conclusão, indicando uma quebra entre as sete Chamadas prévias e estas que se seguem.

Para ilustrar, aponta-se o conceito de padrão encontrado através das primeiras sete Chamadas:

Chamadas 1 e 2: Evocação dos sete Arcanjos planetários.

Chamada 3: Evocação dos Arcanjos dos doze signos/casas.

Chamadas 4 a 7: Evocação de Anjos estelares associados aos quatro quadrantes do Universo, e governados pelos Sete e pelos Doze.

Portanto, nós vemos nestas Chamadas a formação do Universo inteiro, expressa em termos astrológicos. Os sete Arcanjos planetários são os “Sete Espíritos de Deus” mencionados diversas vezes no Apocalipse de São João. Eles dirigem os Arcanjos dos Doze Reinos do zodíaco, que a si mesmos descrevem no Apocalipse 21 como os guardiões dos doze portões da Cidade Santa.

Por sua vez, os Doze Reinos zodiacais são populados com inumeráveis Anjos (ou Trovões) que são agrupados nos quatro quadrantes do Universo – provavelmente de acordo com triplicidade elemental. Essa assunção é baseada em um diagrama que Dee desenhou da descrição de São João da Cidade Santa. Dee rotulou os doze portões com os nomes secretos dos Doze Arcanjos, as tribos hebraicas associadas e seus correspondentes signos do zodíaco. Este diagrama indica que a triplicidade ígnea (Áries, Leão, Sagitário) está associada ao Leste; a triplicidade terrestre (Capricórnio, Touro e Virgem) está associada ao Sul; a triplicidade aérea (Libra, Aquário e Gêmeos) está associada com o Oeste; e a triplicidade aquosa (Câncer, Escorpião e Peixes) está associada ao Norte. Esta é a atribuição zodiacal dos elementos aos quatro quadrantes, como dado por Agrippa em seu “Três Livros de Filosofia Oculta”.

Tendo estabelecido os governantes Angélicos que regem a Criação, as Chamadas seguintes parecem focar nos Anjos que irão purificar essa Criação com fogo durante a Tribulação.

Portanto, deste ponto em diante, iremos perceber um incremento visível na imagem apocalíptica. Muito semelhante ao Apocalipse de São João e outras literaturas apocalípticas, a poesia das Chamadas é extremamente obscura e difícil de interpretar. Se o estudante deseja ganhar uma compreensão aprofundada das próximas Chaves, sugere-se o estudo de livros tais como a Revelação de São João, Daniel, o Livro de Enoch (1 Enoch), e textos bíblicos correlatos.

Também serão vistos mais dos Trovões nas próximas Chamadas, embora seja difícil dizer se eles são exatamente os mesmos Trovões delineados nas Chamadas 4 a 7. Eles podem ser tanto Anjos inteiramente separados encarregados do Fim dos Tempos, quanto simplesmente os mesmos Trovões prévios que irão agir nesta função, no futuro.

Notas de Tradução

Seguindo por um caminho paralelo às sugestões acima descritas pelo autor, é possível encontrar apoio para tecer algumas especulações extras.

Parece evidente que a partir desta Chave a Criação está estabelecida, e agora é narrada a forma como se dá a interação das criaturas (o homem entre elas) com esta Criação.

O Leste, a priori, é o local do início dos ciclos, a primeira manifestação da Criação. Ao falar de uma “casa de virgens cantando louvores entre as chamas da Primeira Glória”, outra associação possível está ligada ao florescer da vida na Criação, e também ao surgimento do homem.

Ao longo das fases da Lua, astro que tem grande influência sobre o comportamento de toda a Criação, sua força se renova – seja nas marés, no homem ou mesmo no passar das estações; as estrelas, ou “ornamentos brilhantes” que “operam maravilhas” em todas as criaturas, estariam associadas aos signos ascendentes que sobem no horizonte.

A morada e infinidade dos ciclos em seguida é ilustrada, comparando esta instância da Criação às duas anteriores (Terceiro e Quarto, assentos da Misericórdia e da Continuidade), no sentido de que a Lei de funcionamento da Criação está estabelecida, e ela vale para todos os níveis (“O que está acima é como o que está embaixo, para que se cumpra o milagre da Unidade”).

Esta passagem faz ainda mais sentido ao considerarmos o quadrante Oeste como o assento da Misericórdia. É ali o local de arrependimento, de reflexão, da percepção e do entendimento. É ali que se adquire Sabedoria, para retornar ao Caminho que leva à Força Criadora. O Norte, assento da Continuidade, é autoexplicativo – alude à compreensão de que o fim traz consigo um novo início.

Ao final são conclamados os “servos da misericórdia”, e possivelmente a função destes Anjos é a de apresentar uma nova chance à redenção através do ciclo de reencarnações – especialmente ao homem, que reinicia sua jornada neste alvorecer da vida.

Aqui tem início o ciclo do Fogo, onde podemos notar que toda esta sequência de Chaves (7-10) está associada às suas manifestações ígneas através da posição do Sol: aurora, zênite, pôr do sol e meia noite, que pode ser comparada às etapas da vida do homem: nascimento, vida adulta, meia idade e velhice.

Com o nascimento a vida é um mar de possibilidades. Conforme as Chaves avançam e o Sol descrito aproxima-se do fim da sua Jornada, estas ganham um tom de aviso cada vez mais soturno, que culmina na Décima Chave.